segunda-feira, 9 de março de 2009

O último vôo do besouro Edição 458 - Jul/03

Quem nunca ouviu falar em 'sobrevivência dos mais fortes'? A expressão vem da Teoria da Evolução das Espécies, elaborada por Charles Darwin, mas traz um equívoco - quem sobrevive, na verdade, é o mais apto. Embora tenha sido desenvolvida para a biologia, a tese vale de maneira implacável até para o universo dos carros, e está determinando o fim de um dos maiores mitos da indústria automobilística. Após 70 anos de sobrevivência, o Fusca rende-se às leis de mercado e segue para o caminho da extinção.

Em 6 de junho, o Deutsche Welle, canal alemão de TV a cabo, apresentou uma reportagem em que o porta-voz da Volkswagen, Fred Baerbock, afirmava que o Fusca será produzido em Puebla, México, apenas até o fim do verão europeu, ou seja, setembro. A notícia foi confirmada por Luiz Miguel, gerente de comunicação da Volkswagen mexicana. Uma fonte de Autoesporte, no entanto, informou que os últimos Fuscas foram montados na primeira quinzena de junho. A essa altura, a linha de montagem já está desativada.

O motivo alegado pela VW para o fim da produção é a queda nas vendas. Nos primeiros quatro meses do ano foram vendidos apenas 3.850 Fuscas no México, ante 9.450 no mesmo período de 2002 (ano em que a comercialização já registrou queda de 39%). Para Alexander Gromow, ex-presidente do Fusca Clube do Brasil e autor do livro Eu Amo Fusca, essa pode ser, ainda, a oportunidade para que a montadora 'se veja livre de um produto que custa muito caro para ser produzido'.


Está justamente nesse aspecto a inaptidão do modelo ou sua inadequação às exigências tecnológicas atuais. Como a carroceria tem de ser parafusada sobre a plataforma do chassi, o número de funcionários exigidos para o serviço é grande. 'O Fusca é um carro forte, ideal para países do terceiro mundo. Porém, não dá para automatizar sua linha de montagem. E isso torna a mão-de-obra muito cara', explica Gromow. 'Outro aspecto que, seguramente, prejudicou o Fusca foram as restrições ambientais na Cidade do México; elas já haviam determinado a adoção de injeção eletrônica para o Vocho, apelido do modelo mexicano', completa.

A história do besouro começa em 1934, quando Ferdinand Porsche assinou o contrato para o desenvolvimento do 'carro do povo'. O projeto foi financiado por Adolf Hitler, que pretendia usar o Fusca como um 'objeto de representação perante as demais nações', explica Gromow. O protótipo ficou pronto em 1936, e a produção em série começou apenas após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.


Aqui, a primeira unidade foi vendida em 1950, importada da Alemanha pela Brasmotor. No ano seguinte, ela começou a montagem local pelo sistema CKD (completamente desmontado).

O ano de 1953 foi interessante na história do carro no Brasil. Durante três anos ele foi montado, simultaneamente, por Brasmotor e VW, que chegara ao país naquele ano. O primeiro Fusca 'made in Brazil' saiu da linha de montagem em 1959, ano em que foram vendidas 8.406 unidades. A produção brasileira parou em 1986, principalmente pela defasagem tecnológica do modelo e a boa aceitação do Gol. Segundo a VW, até aquela data, 3,3 milhões de unidades foram produzidas.

Em 1993 a produção foi retomada. Na época, o então presidente Itamar Franco concedeu à montadora incentivos fiscais, pois via no Fusca a oportunidade de reforçar o conceito de carro popular. Porém, com o fim do seu mandato, em 1996, a produção foi extinta de vez. Naqueles três anos foram montadas 47.758 unidades.

A Volkswagen contabiliza cerca de 21,5 milhões de Fuscas produzidos em todo o mundo. No México, último ninho do besouro, a produção somou 1.688.492 unidades. Salvo o período de 1993 a 1996 no Brasil, desde 1986 a linha de montagem mexicana era a única a produzir o carro. Nos anos 90, eram montadas cerca de 275 unidades diárias. Ultimamente, apenas 55. O New Beetle, que chegou ao mercado em 1998, também é feito no país norte-americano. Entre janeiro e abril de 2003, 867 unidades do novo Fusca foram vendidas.

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